Será o primeiro voo tripulado partindo de solo americano em nove anos

A princípio, o ceticismo era grande. Mas a SpaceX de Elon Musk desafiou as expectativas e, na quarta-feira (27), espera fazer história transportando dois astronautas da Nasa ao espaço, no primeiro voo tripulado partindo de solo americano em nove anos.

O presidente Donald Trump estará entre os espectadores no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, para assistir ao lançamento, que recebeu autorização apesar dos meses de confinamento devido à pandemia de coronavírus.

Em razão das restrições impostas pela pandemia de Covid-19, o público em geral foi convidado a acompanhar o lançamento da Crew Dragon por um foguete Falcon 9 rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) pela transmissão ao vivo.

Destinado a desenvolver naves espaciais privadas para transportar astronautas americanos ao espaço, o programa de tripulação comercial da Nasa começou sob o governo de Barack Obama.

Trump o vê como símbolo de sua estratégia para reafirmar o domínio americano do espaço, tanto militar, com a criação da Força Espacial, quanto civil.

O atual presidente ordenou que a Nasa retorne à Lua em 2024, um cronograma difícil de cumprir, mas que deu novo impulso à famosa agência espacial americana.

Nos 22 anos desde o lançamento dos primeiros componentes da ISS, apenas naves espaciais desenvolvidas pela Nasa e pela agência espacial russa levaram equipes para essa estação.

A agência americana apostou no seu famoso programa de ônibus espaciais: naves espaciais enormes e extremamente complexas que levaram dezenas de astronautas ao espaço por três décadas.

Seu custo impressionante – US$ 200 bilhões para 135 voos – e dois acidentes fatais acabaram por encerrar o programa.

O último ônibus espacial, Atlantis, viajou em 21 de julho de 2011.

Depois, os astronautas da Nasa tiveram de aprender russo e viajar para a ISS no foguete russo Soyuz, que decola do Cazaquistão, em uma parceria que sobreviveu às tensões políticas entre Washington e Moscou.

Os Estados Unidos pretendiam, no entanto, que este fosse um acordo temporário.

A Nasa confiou a duas empresas privadas, a gigante da aviação Boeing e a SpaceX, a tarefa de projetar e construir cápsulas que substituiriam os ônibus espaciais.

Nove anos depois, a SpaceX, fundada por Musk, o empresário sul-africano que também criou o PayPal e a Tesla, está pronta para o lançamento.

‘Uma história de sucesso’

A previsão é que às 16h33 (17h33 de Brasília) de quarta-feira, o foguete SpaceX Falcon 9 decolará da plataforma de lançamento 39A com a cápsula Crew Dragon no topo.

A Nasa concedeu à SpaceX mais de US$ 3 bilhões em contratos desde 2011 para construir a espaçonave.

A cápsula será tripulada por Robert Behnken, de 49 anos, e Douglas Hurley, de 53, ambos com uma longa história de viagens espaciais: Hurley pilotou o Atlantis em sua última viagem.

Cerca de 19 horas depois, vão atracar na ISS, onde dois russos e um americano esperam por eles.

A previsão do tempo permanece desfavorável, com uma probabilidade de 60% de condições adversas, segundo os meteorologistas de Cabo Canaveral, o que pode levar a adiamentos. A próxima janela de lançamento é sábado, 30 de maio.

A operação levou cinco anos a mais do que o planejado, mas, mesmo com os atrasos, a SpaceX derrotou a Boeing.

O voo de teste da Boeing de seu Starliner fracassou, devido a sérios problemas de software, e terá de ser refeito.

“Tem sido uma história de sucesso”, disse à AFP Scott Hubbard, ex-diretor do Centro Ames da Nasa no Vale do Silício, que agora leciona em Stanford.

“Houve um grande ceticismo”, lembrou Hubbard, que conheceu Musk antes da criação da SpaceX e também preside um painel consultivo de segurança da SpaceX.

“Os líderes da Lockheed, da Boeing, me disseram em uma conferência que os caras da SpaceX não sabiam o que estavam fazendo”, contou à AFP.

A SpaceX finalmente chegou ao topo com seu foguete Falcon 9.

Desde 2012, a empresa reabastece a ISS para a Nasa, graças à versão de carga da cápsula Dragon.

A missão tripulada, chamada Demo-2, é de fundamental importância para Washington por duas razões. A primeira é quebrar a dependência da NASA em relação à Rússia. E a segunda é catalisar um mercado privado de “órbita terrestre baixa”, aberta a turistas e empresas.

“Prevemos um dia, no futuro, que teremos uma dúzia de estações espaciais na órbita terrestre baixa. Todas operadas pela indústria comercial”, disse o diretor da NASA, Jim Bridenstine.

Musk mira mais alto: está construindo um enorme foguete, o Starship, para circunavegar a Lua, ou até viajar para Marte e, finalmente, tornar a humanidade uma “espécie que habite vários planetas”.

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